Sozinho Nos Alpes Adventure Motorcycle Ride
Qual poderia ser a razão para levar um motociclista a fazer uma viagem aos Alpes a solo numa Adventure Bike? Ter desejos de ser motociclista solitário? Querer ir fazer umas curvas sinuosas antes de partir em direcção ao pôr-do-sol?
No meu caso, não foi nenhuma destas razões.
Deixar a Pandemia Para Trás
Após a viagem ao Cabo Norte em 2019, passando por 16 países europeus, tinha-me tornado viciado em viagens de longa distância. Para "alimentar" o meu vício (um muito saudável, a propósito), tinha planeado uma nova viagem de mota de aventura, e desta vez a ideia era ir em direcção a Leste, para os Balcãs, percorrendo 12 países diferentes.
Um dia vou viajar de mota por todos eles!
Só que, desta vez, não resultou nem exactamente, nem sequer aproximadamente do que eu tinha planeado.
O resultado foi o que já sabemos. Ficámos todos presos em casa, reclusos em prisão própria. Cortesia do Coronavírus.
Depois de tanto tempo em reclusão pandémica, e de estar confinado ao meu quintal para um vislumbre de condução de uma mota de aventura, precisava urgentemente de um novo desafio. A Covid-19 é uma chatice..
Deu cabo dos meus planos de viagem em 2020, e continua a tentar minar os que vou fazendo para 2021.
Pensei em verter litros de água, e uma tonelada de cascalho e terra no relvado, criando uns quantos buracos e saltos.
Fazer campismo no quintal durante a noite, depois de atear fogo aos troncos de lenha que sobraram do Inverno passado e banquetear-me com alguns feijões enlatados aquecidos por cima do fogo aberto. Bolas! Já que lá estava, também podia atirar alguns marshmallows para a fogueira.

Depois deixei-me de delírios mentais ilusórios e percebi que a minha relação com os meus vizinhos sofreria uma queda que nenhum equipamento de protecção poderia algum dia salvar.
Depois de ter chegado a acordo com a razão, percebi que não era a ideia mais brilhante que alguma vez tive. Também notei que, curiosamente, a "razão" parece estar por perto ao mesmo tempo que a minha mulher está. Não consigo perceber bem o significado disto, mas suponho que devem ser amigas.
De qualquer modo, em meados de Agosto, algumas das restrições existentes nas fronteiras foram levantadas, pelo menos em Espanha, França, Itália, Suíça. Mais uma vez, comecei a ficar nervoso em casa. Quando vi a oportunidade, comecei imediatamente a fazer as malas. Decidir o destino foi fácil e não deu trabalho. Iria viajar pela Europa livre de restrições.
Era tempo de escolher a rota, e essa seria a tarefa mais fácil que tinha há meses. Só de olhar para o mapa, alguns locais destacaram-se de imediato, acabando por criar uma linha a seguir com a minha BMW R 1200 GS.

Andorra, St Tropez, Mónaco, Bellagio, Passo de lo Stelvio, Furka Pass, Grimsel Pass, algo Pass, e quaisquer sinais com Pass escrito eram meus para percorrer.
O que eu não estava disposto a deixar passar era a oportunidade de sair numa viagem de mototurismo de aventura. Havia algo na minha mente que dizia para sair agora antes que voltassem a fechar novamente as fronteiras.
Ao todo, foi uma viagem de 3510mi/5650 km de paisagens inesquecíveis. Através dos Alpes e vales glaciares, dentro dos constrangimentos e prazos que tinha.
A Rota – Etapa a Etapa
Com apenas 9 dias para viajar, o meu objectivo era desfrutar ao máximo da viagem que pudesse. Afinal, ninguém sabia se as restrições fronteiriças seriam impostas de novo, e se assim fosse, quando é que isso aconteceria.
Etapa 1 – Lisboa / Andorra
Saí de Lisboa e dirigi-me directamente para Andorra, atravessando Espanha rolando para leste num percurso com muitas auto-estradas. Portanto, não há muito para contar. Cerca de 775mi/1250kms feitos num só trecho.
A noite foi passada num parque de campismo em Andorra la Vella, esperando e recarregando energia para o dia seguinte.

Etapa 2 – Andorra / Montpellier
Parti de Andorra la Vella através de Pas de la Casa e atravessei os belos Pirinéus catalães. As estradas dos "Pirineos Catalanes" deram-me um vislumbre da diversão que estava por vir uma vez que alcançasse os Alpes. Esta região de Espanha que passa despercebida ao turismo de massas que flui sistematicamente para o sul do país, também tem algumas rotas de motociclismo muito agradáveis, como a N-260.
Depois da travessia dos Pirenéus, dirigi-me para a costa onde comecei a percorrer o meu caminho para Montpellier.
A noite foi passada uma vez mais, num camping perto de Montpellier.

Etapa 3 – Montpellier/ Roquebrune-sur-Argens
A partir de Montpellier, concentrei-me em chegar à Côte D'Azur, e circular perto da linha costeira. Esse era o objectivo para o final da etapa 3. Entretanto, eu ainda tinha de lá chegar. No caminho, passei por Marselha, e pela região da Provença. Podia estar a falar-vos dos campos deslumbrantes e das cores perfeitas dos postais que se assemelham a uma montagem fotográfica (ou será ao contrário?), mas mais uma vez, o andar de mota era o que me faltava, e do qual tinha saudades.
No final do dia de condução, fiz um pequeno desvio para ir a St Tropez.
O Camping Vaudois foi a minha casa longe de casa nessa noite. A matemática é o meu forte, e sei perfeitamente que: Mota mais tenda é igual a casa, para todos os efeitos.

Etapa 4 – Roquebrune-sur-Argens/ Cannes / Mónaco / Vigevano
Com o Camping Vaudois atrás de mim, continuei a fazer mototurismo pela Riviera Francesa. À beira-mar pela Côte D'Azur, viajando para Leste até Cannes e Mónaco. Finalmente deixando França, atravessei a fronteira italiana no Posto Fronteiriço de St Ludovic.
O que se seguiu foi um passeio pela costa até San Remo com um desvio para o Lago Osiglia antes de me dirigir para Savona e depois conduzir para norte até Vigevano, nos arredores de Milão. Lá, passaria a noite no Hotel del Parco com um pouco mais de conforto do que nas noites anteriores.
Etapa 5 – Vigevano / Lago di Como / Stelvio Pass / Trafoi
Deixando os arredores de Milão com os olhos postos no prémio, o Stelvio, entrei na zona do Lago di Como. A primeira paragem foi Como, a seguir Bellagio, e acabei por percorrer todos os contornos do Lago di Como a partir do sul.
Depois disso, a direcção da viagem deslocou-se para norte/nordeste rumo a Bormio.
Há muito tempo que esperava pela oportunidade de passar pelo Stelvio Pass. "Ill Passo Dello Stelvio", como dizem os habitantes locais, é uma rota bem conhecida entre os motociclistas, tremendamente popular pelas suas curvas. Na verdade, tenho quase a certeza de que as suas 48 curvas de 180º valeram ao Stelvio, o estatuto da estrada de montanha mais emblemática da Europa.


Uma experiência espantosa, e também afortunada. O Stelvio não estava tão cheio como por vezes está, e eu pude aproveitar a condução sem estar no meio de uma multidão de motociclistas.
Trafoi foi o local para essa noite, mais concretamente o Camping Trafoi.
Etapa 6 – Trafoi/ Flüela Pass/Liechtenstein/ Tujetsch
A noite em Trafoi foi mais difícil do que eu antecipava. Não por estar extremamente frio, mas por causa da amplitude térmica verificada entre o dia e a noite. Acho que a noite confortável do hotel me deixou mal habituado. Lição aprendida. Da próxima vez trago uma manta térmica.
Saindo de Trafoi, fui em direcção ao Flüela Pass nos Alpes suíços. Uma estrada de cortar a respiração, com curvas largas e uma bela panorâmica do vale. As curvas apertam-se um pouco para o fim, mas nunca tanto, que quebrem o ritmo de condução. Depois de Davos no final do desfiladeiro de Flüela, vi uma placa que dizia Liechtenstein. Porque não? Liechtenstein check!
Próxima e a última paragem da etapa 6, Tujetsch. E mais uma noite de motocamping, desta vez no Camping Viva.
Etapa 7 – Tujetsch / Oberalp Pass / Furka Pass / Grimsel Pass / Interlaken / Jaun Pass / Montreux – Lake Léman / Martigny / Chamonix-Mont Blanc / Albertville
Saindo Camping Viva em Tujetsch, estava pronto para um dia de Passes, Passes, e mais Passes.
Oberalp Pass foi o primeiro, seguido do Furka Pass, Grimsel Passe provavelmente outros Passes de que eu não me apercebi, pela semelhança das curvas e das paisagens.
Após passar por Interlaken, o Jaun Pass foi o seguinte.
Era altura de começar a descer para Montreux, nas margens do Lago Léman, depois Martigny e reentrar em França através de Chamonix-Mont Blanc.
Depois do frenesim de Passes nos Alpes Suíços, finalmente parei para passar a noite em Albertville.
Etapa 8 – Albertville / Biarritz
Em Albertville, decidi presentear-me com outra noite de hotel. O conforto de uma cama real, é agradável de vez em quando, e o argumento de ter mais de 800mi/1300km para fazer na etapa final convenceu-me.
A caminho de Biarritz, passei por Avignon, novamente Montpellier e Toulouse.
Um parque de campismo próximo, foi a escolha para passar a noite.

Etapa 9 – Biarritz / Lisboa
A etapa 9, a etapa final, tem mais quilómetros do que histórias associadas. Dei um salto a San Sebastián, Valladolid, Salamanca, antes de entrar em Portugal. E finalmente, o regresso a casa numa longa etapa que não quebrou a minha vontade de continuar a viajar de mota por novos lugares.
Como eu costumo dizer, se tenho saúde e estou a andar de mota... bem... estou feliz!
Vemo-nos na próxima aventura!
Plan,Ride,Live,Repeat!
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